Juventude em ação: O papel dos jovens na restauração da Caatinga

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Maria Geane compartilha suas perspectivas como uma Restoration Steward de zonas áridas de 2024

A caatinga é um bioma único do semiárido brasieliro abrigando uma grande variedade de espécies endêmicas, e sua vegetação desempenha um papel crucial na regulação do clima e preservação de espécies. Nosso sistema agroflorestal na Fazenda Agroecológica Xique Xique, liderada por mim e por meu irmão, Gean, faz parte do movimento abrangente de defesa da Caatinga, contribuindo para o revigoramento do ecossistema por meio da restauração de terras degradadas.

Além disso, o nosso projeto integra o processo de envolvimento da juventude do semiárido brasileiro em atividades sustentáveis, servindo como modelo para a nossa comunidade e para outros jovens do Quilombo Lagoas. Nessa mesma linha, nossas atividades agroflorestais consistem em uma referência para as escolas e universidades do território Serra da Capivara no enfrentamento de eventos extremos climáticos, como secas prolongadas.

Integração de Jovens na restauração da Caatinga
A integração de jovens em projetos de restauração e agrofloresta no semiárido não apenas promove a sustentabilidade ambiental, mas também gera impactos significativos na economia local e na justiça social. Ao envolver a juventude, esses projetos incentivam a geração de emprego e renda, fortalecem a comunidade e garantem a transmissão de conhecimentos ecológicos e agrícolas para as futuras gerações. 

Esse engajamento com a juventude cria um ciclo virtuoso de desenvolvimento sustentável, onde o crescimento econômico está aliado à preservação ambiental e à equidade social, contribuindo assim com a transformação da realidade do semiárido e proporcionando um futuro mais próspero e equilibrado para todos. Seguindo o exemplo de atividades como as conduzidas em nossa propriedade, jovens do quilombo vem se envolvendo mais e mais em atividades sustentáveis de geração de renda como produção orgânica em quintais produtivos.  

Área do sistema agroflorestal em nossa propriedade. Geane Magalhães Bastos.

Por que os jovens são o coração da restauração

Para discutir um pouco mais sobre o papel de jovens em processos de restauração de ecossistemas a nível regional para a América Latina, entrevistamos o Dr. Sergio E. Lozano-Baez, ecólogo e PhD em Recursos Florestais, e parte da rede Restoration Stewards, que compôs no ano de 2022 com um projeto de restauração de montanhas na Colômbia. Sérgio atualmente tem contribuído com o nosso projeto como um de nossos mentores, provendo indicações em como aumentar o nosso impacto a partir de sua experiência como jovem restaurador. 


Reunião com um dos meus mentores, Sérgio Lozano. Maria Geane Magalhães.

Nossa conversa foi baseada em uma discussão sobre o papel de jovens na restauração de áreas degradadas e o papel da agrofloresta e da agroecologia nesse processo. Conversamos sobre como essas práticas podem desenvolver capacidades de empreendedorismo entre jovens da comunidade, e o papel da restauração na busca da justiça social, inclusão, e segurança e soberania alimentar de comunidades. 

A agrofloresta e a restauração de ecossistemas andam de mãos dadas

Para Sérgio, a restauração de ecossistemas e a agrofloresta podem oferecer oportunidades de liderança e empreendedorismo para os jovens, além de facilitar a geração de renda a partir de negócios sustentáveis.  Além de prover emprego para a juventude, essas práticas apresentam jovens a uma filosofia de vida de longo prazo, contribuindo na busca da justiça social ao empregar comunidades locais em projetos de recuperação ambiental. Por exemplo, na região Latinoamericana, jovens podem ser treinados para plantar árvores em áreas degradadas, restaurando o ecossistema. Isso não só cria empregos e melhora a renda, mas também capacita os jovens com habilidades ambientais valiosas, promovendo inclusão social e uma conexão mais forte com a natureza.

Em nossa conversa com o Sérgio, fomos lembrados sobre como a restauração pareada à agrofloresta impacta a segurança alimentar e a soberania das comunidades rurais ao diversificar a produção agrícola, aumentando a disponibilidade de alimentos nutritivos e resilientes às mudanças climáticas. Ela promove práticas sustentáveis que enriquecem o solo e conservam recursos hídricos, reduzindo a dependência de insumos externos. Isso fortalece a autonomia das comunidades, permitindo-lhes controlar sua própria produção alimentar e melhorar sua qualidade de vida.

Estar em contato com outras lideranças jovens da região encabeçando projetos de restauração, como o Sérgio, nos traz o conforto de pensar que não estamos sozinhos na luta por um futuro mais justo e próspero para futuras gerações. Esperamos que os nossos esforços de implementar a agrofloresta como uma alternativa viável a ser seguida pela juventude do Nordeste brasileiro siga inspirando outros a também compor essa onda de transformação, traçando assim novos caminhos sociais, econômicos e ecológicos para essa região vulnerabilizada de nosso país.